O impacto do setor do aço no desenvolvimento brasileiro e capixaba

Segmento cujo desempenho impacta diretamente outras atividades, como construção civil, automotivo e bens de capital, é vital para manutenção de 109 mil postos de trabalho no país
Vital para as economias brasileira e capixaba, o setor siderúrgico respondeu por 109 mil postos de trabalho gerados no país em 2015, de acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr). Entretanto, o agravamento da crise política e econômica, a queda global nos preços das commodities e o excedente na produção mundial vêm fazendo com que o segmento registre baixas em oferta, vendas e consumo aparente. Além dos impactos causados diretamente entre aqueles que dependem dessa atividade para sobreviver, com o fechamento de quase 30 mil empregos no ano passado, há ainda os efeitos indiretos, visto que a área composta por 29 usinas, administradas por 11 grupos empresariais, movimenta uma vasta cadeia de fornecedores.
 
Alguns dos principais campos da economia, como construção civil, automotivo e bens de capital, são também os líderes em demanda de aço no Brasil, representando juntos 80% do consumo dessa mercadoria no país.
 
“O aço está presente na vida das pessoas de diversas formas, sendo até mesmo ‘invisível’ em alguns momentos. Esses segmentos estão diretamente ligados ao aço, o que acaba fazendo com que um dependa do outro para se manter estável. Se o aço vai bem, outros setores são beneficiados. Porém, se o setor estiver ruim, toda uma cadeia é prejudicada”, ressalta o vice-presidente comercial da ArcelorMittal Tubarão, Eduardo Zanotti.
 
Ao avaliar a importância da siderurgia para o desenvolvimento, o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, lembra que são quase 6 mil vagas de trabalho abertas no Estado.
 
“Ao lado de petróleo, minério e celulose, o aço é um dos diferenciais do Espírito Santo no mercado externo. Ter um setor siderúrgico forte é garantir competitividade para a indústria capixaba, empregos de maior renda e oportunidades para a cadeia de fornecedores que atua no Estado”, comenta.
 
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Desempenho do setor
 
De acordo com dados divulgados pelo IABr, a produção acumulada de aço bruto caiu 1,9% em 2015 comparada ao ano anterior, chegando a 33,2 milhões de toneladas. Com isso,  o Brasil passou a ocupar o 8º lugar entre os maiores fabricantes de aço, conforme a World Steel Association (Associação Mundial do Aço, em tradução livre). Estão à frente no ranking China (803,8 milhões de toneladas), Japão (105,2 milhões), Índia (89,6), Estados Unidos (78,9), Rússia (71,1), Coreia do Sul (69,7) e Alemanha (42,7). Completam a lista dos 10 principais produtores mundiais a Turquia, com 31,5 milhões de toneladas e Ucrânia, com 22,9 milhões de toneladas.
 
“O aço produzido no Brasil para o setor automotivo é o mais barato do mundo, o que torna nosso mercado bastante atrativo. Hoje, a tendência das empresas é aumentar cada vez mais o volume de exportações, já que o mercado doméstico tem passado por dificuldades. Com as expectativas de reação do mercado internacional e nossa posição geográfica estratégica, o cenário de exportação é o mais atrativo possível para nós” pontua Zanotti.
 
Já entre os laminados, a queda na produção foi maior, chegando a 9,2% ao final de 2015, frente a 2014. Ainda segundo o IABr, as vendas de produtos siderúrgicos ao mercado brasileiro acumularam 18,2 milhões de toneladas, redução de 16,1% ante os 12 meses de 2014. Quanto ao consumo aparente nacional, que corresponde a vendas internas mais a importação, houve retração de 16,7% em todo o ano de 2015, atingindo 21,3 milhões de toneladas.
 
“Nos últimos três anos, tivemos uma queda de 35% na demanda de aço, o que é um reflexo da instabilidade econômica que vive o país neste período. Atualmente, o consumo interno é o mesmo que era registrado há 10 anos, atentando para a necessidade de avaliarmos todo o cenário. Precisamos que o país volte a crescer para que o setor também reaja”, reforça Zanotti.
 
Para Guerra, o declínio no consumo de aço e no ritmo de crescimento da China afetou o preço das commodities minerais de maneira global.
 
“O Brasil, um dos principais exportadores de minério do mundo, também sentiu o baque. Com excesso de produção e baixa procura, o aço bruto se desvalorizou, e o minério de ferro ficou abaixo dos US$ 40 no ano passado, patamar não registrado desde 2008. Com a desvalorização, toda a cadeia produtiva sofreu impacto, desde a extração até a siderurgia.” 
Os balanços divulgados pelo IABr em 2016 indicam que deve ser ainda pior para o mercado, se não houver uma reação. 
 
De janeiro a abril, a produção de aço bruto foi de 9,7 milhões de toneladas, e a de laminados, de 6,7 milhões, diminuição de 14% e 18%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2015. Sob a mesma base de comparação, as vendas internas caíram 20,3%, para 5,4 milhões de toneladas, e o consumo aparente alcançou 5,8 milhões de toneladas, 28% menos que janeiro a abril de 2015.
 
A retomada da área, na avaliação de Zanotti, vai depender de como irá se portar o novo Governo e quais serão suas estratégias e soluções para reaquecer a economia, já nos próximos meses.
 
“Não há como dar um prazo para essa guinada, já que estamos no início de um novo momento para o país, mas confiamos que o mercado se recuperará em breve”, declarou. 
 
O presidente da Findes é mais otimista,  esperando um aquecimento em toda a cadeia produtiva caso a Samarco retorne à operação, que influenciaria na retomada da siderurgia.
 
“O crescimento dos Estados Unidos e da Zona do Euro, associado aos sinais de reação da China, tem surpreendido o mercado internacional, influenciando na recente alta das commodities. Paralelamente, a mudança de gestão do Governo Federal também traz uma mensagem de otimismo aos empreendedores nacionais e aos investidores estrangeiros, aumentando os índices de confiança. O Espírito Santo ainda tem uma importante questão a resolver, que é a reativação da Samarco. A indústria prestou assistência às vítimas, se preocupou com o social e com o meio ambiente, mas agora precisa voltar a operar para gerar riquezas e empregos no Estado”, observa.
 
Guerra acrescenta que o Brasil tem sofrido de maneira peculiar nesta crise, em razão do momento político e econômico que vive.
 
“A baixa das commodities, um dos pilares da economia nacional, chegou ao mesmo tempo em que o Governo Federal enfrentava sua pior crise administrativa, uma sucessão de erros que endividou o consumidor interno, onerou a indústria, restringiu o crédito, afetou o câmbio, aumentou os custos de produção e causou desconfiança no mercado internacional. Tudo isso culminou nos constantes rebaixamentos das agências internacionais de crédito, afastando os investidores. Diante das incertezas, os grandes projetos ficaram em segundo plano. Neste contexto, mais importante que ampliar plantas industriais é enxugar gastos e garantir a continuidade das operações mesmo diante da crise”, disse.
 
Aço no Espírito Santo
 
Apesar da retração em nível nacional, o Espírito Santo ainda registra aumento na produção de aço. Em 2015, a expansão na fabricação de aço bruto foi de 26,7%, passando de 5,6 milhões para 7,1 milhões de toneladas, na comparação com 2014. 
 
No mesmo período, a oferta de laminados e semi acabados para venda passou de 4,2 milhões para 5,6 milhões de toneladas, elevação superior a 33%. Com isso, o Estado se manteve como terceiro maior fornecedor nacional e ampliou sua participação no desempenho brasileiro, de 16,3% para 21,4% entre os produtores de aço bruto, e de 13,5% para 17,9%, entre os laminados e semiacabados para venda.
 
“Hoje a principal aposta da ArcelorMittal Tubarão é o mercado externo. Exportamos, atualmente, 70% da nossa capacidade de produção, que é de 7 milhões de toneladas ao ano. O mercado americano está muito bem, com a economia crescendo, o que torna os preços muito atraentes para nós e é um dos principais destinos dos semiacabados”, explica o vice-presidente comercial da siderúrgica, Eduardo Zanotti.
 
Guerra atribui a boa performance capixaba em 2015 à perspectiva otimista que o país ainda vivia em 2014, especialmente na indústria extrativa.
 
“Com crescimento acumulado, ocasionado pela demanda de commodities minerais, as grandes indústrias, como Vale, ArcelorMittal e Samarco, investiram em ampliações. No último trimestre de 2014 e no primeiro semestre de 2015,  a plena operação das usinas de pelotização e do alto-forno gerou um efeito estatístico nos números da indústria capixaba: comparamos um período de baixa a outro com produção a todo vapor”, destacou. 
 
Política industrial
 
Em relação à política industrial, Zanotti salienta que o principal debate hoje é sobre a necessidade de se manter competitivo.
 
“Em abril e maio deste ano, tivemos aumento em nossos preços praticados que foi fruto da evolução do mercado internacional. Mesmo assim, nosso valor ainda tem se portado como atrativo para o mercado doméstico. Além disso, o preço do aço é ajustado para que as margens das empresas possam evoluir, já que hoje apresentam números muito abaixo do esperado. Outro fator que influencia na cotação do produto é o valor do dólar, pais grande parte das matérias-primas de nosso processo de produção é fixada na moeda”, pondera.
 
A adoção de medidas que diminuam o chamado “Custo Brasil” também poderia acarretar um cenário mais animador para as empresas.
 
“Com a tendência de o país se tornar cada vez mais exportador, é necessário que investimentos sejam feitos na área para garantir também o nosso sucesso no mercado internacional. Além disso, temos que defender nosso produto nacional de outros estrangeiros, como a China, que está tendo dificuldade de exportar para várias regiões do mundo. Precisamos que nossos governantes olhem com mais carinho para esse problema”, sugere Zanotti.
 
Guerra frisa que a perspectiva de retomada da economia nacional deve reaquecer a demanda por aço no mercado, mas pode acabar revelando um dos piores entraves do país: a infraestrutura precária.
 
“Faltam ferrovias e rodovias em condições de escoar a produção das siderúrgicas com eficiência. Considerando o tamanho do litoral brasileiro, outro pleito do setor é a cabotagem, modal de transporte totalmente viável e com baixo custo. É preciso planejar investimentos de curto, médio e longo prazo para ampliar o volume de aço transportado e diminuir os custos logísticos desse processo”, finaliza.
 
Fonte: Thiago Lourenço – Revista ES Brasil
 
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